O modo da bondade condiciona o homem à felicidade; o da paixão o condiciona à ação fruitiva; e o da ignorância, cobrindo seu conhecimento, o ata à loucura.
Quem está no modo da bondade se satisfaz com seu trabalho ou com sua atividade intelectual, assim como um filósofo, cientista ou educador podem se ocupar num determinado campo de conhecimento e ficar satisfeitos com isso. Um homem no modo da paixão pode estar ocupado em atividade fruitiva, possui tanto quanto pode, e gasta em prol de boas causas. Às vezes, ele tenta abrir hospitais, fazer doações para instituições de caridade, etc. Estes sinais são de alguém no modo da paixão. E o modo da ignorância cobre o conhecimento. No modo da ignorância, nada que alguém faça é bom para si mesmo nem para ninguém.
Às vezes, o modo da bondade se torna preeminente, derrotando os modos da paixão e da ignorância. Às vezes, o modo da paixão sobrepuja a bondade e a ignorância, e outras vezes a ignorância derrota a bondade e a paixão. Dessa maneira, há sempre competição pela supremacia.
Quando o modo da paixão é preeminente, os modos da bondade e da ignorância são sobrepujados. Quando o modo da bondade é preeminente, a paixão e a ignorância são derrotadas. E quando o modo da ignorância é preeminente, a paixão e a bondade são derrotadas. Esta competição não pára. Portanto, alguém que de fato pretenda avançar em consciência de Krishna tem de transcender estes três modos. A preeminência de determinado modo da natureza manifesta-se no comportamento da pessoa, em suas actividades, em sua alimentação, etc. Tudo isto será explicado em capítulos posteriores. Mas se quiser, ela poderá, pela prática, desenvolver o modo da bondade e assim derrotar os modos da ignorância e da paixão. Ela pode também desenvolver o modo da paixão e derrotar a bondade e a ignorância. Ou pode desenvolver o modo da ignorância e derrotar a bondade e a paixão. Embora existam estes três modos da natureza material, se o homem for determinado, poderá ser abençoado com o modo da bondade, e, transcendendo o modo da bondade, poderá situar-se em bondade pura, um estado de pureza em que se pode compreender a ciência de Deus. Pela manifestação de actividades específicas, pode-se compreender em que modo da natureza alguém está situado.
As manifestações do modo da bondade podem ser experimentadas quando todos os portões do corpo são iluminados pelo conhecimento.
Há nove portões no corpo: dois olhos, dois ouvidos, duas narinas, a boca, os órgãos genitais e o ânus. Quando cada portão é iluminado pelos sintomas da bondade, deve-se compreender que se desenvolveu o modo da bondade. No modo da bondade, pode-se ter uma visão correta, pode-se ouvir corretamente e podem-se saborear as substâncias correras. A pessoa fica limpa interna e externamente. Em cada portão, há o desenvolvimento dos sintomas da felicidade, e esta é a posição da bondade.
Quando há um aumento do modo da paixão, desenvolvem-se sintomas de grande apego, actividade fruitiva, esforço intenso e desejo e anseio incontroláveis.
Quem está no modo da paixão nunca se satisfaz com a posição já adquirida; sempre deseja melhorar sua posição. Se quer construir uma casa para morar, ele faz o melhor que pode para ter um palácio, como se fosse residir nessa casa eternamente. E desenvolve um grande anseio pelo prazer dos sentidos. O gozo dos sentidos não tem fim. Ele quer sempre ficar em sua casa, e com sua família continuar no processo de desfrutar dos sentidos. Isto nunca termina. Deve-se entender que todos esses sintomas são típicos do modo da paixão.
Quando predomina o modo da ignorância, manifestam-se escuridão, inércia, loucura e ilusão.
Quando não há iluminação, o conhecimento está ausente. Quem está no modo da ignorância não trabalha segundo os princípios reguladores; ele quer agir por capricho, sem propósito algum. Embora tenha capacidade para trabalhar, ele não se esforça. Isto se chama ilusão. Embora continue mantendo sua consciência, sua vida é inativa. Estes são os sintomas de alguém que está no modo da ignorância.
Quando alguém morre no modo da bondade, ele atinge os planetas superiores puros, onde residem os grandes sábios.
Quando alguém morre no modo da paixão, ele nasce entre os que se ocupam em actividades fruitivas; e quando morre no modo da ignorância, nasce no reino animal.
Algumas pessoas têm a convicção de que, ao atingir a forma de vida humana, a alma jamais volta a cair. Isto é incorreto. Segundo o conhecimento védico, e alguém desenvolve o modo da ignorância, após sua morte ele se degrada a uma forma de vida animal. Desse ponto ele tem que se elevar novamente, através de um processo evolutivo, para mais uma vez chegar à forma de vida humana. Portanto, aqueles que de fato levam a vida humana a sério devem adotar o modo da bondade e cultivar boa associação para transcender os modos materiais e situar-se em consciência de Krishna. Este é o objectivo da vida humana. Caso contrário, não há garantia alguma de que o ser humano volte a alcançar a posição humana.
O resultado da ação piedosa é puro e se diz que está no modo da bondade. Mas a ação feita no modo da paixão resulta em miséria, e a ação executada no modo da ignorância resulta em tolice.
O resultado de actividades piedosas executadas no modo da bondade é puro. Portanto, os sábios, livres de toda a ilusão, estão situados em felicidade. Mas as actividades no modo da paixão são deveras miseráveis. Qualquer actividade que visa à obtenção de felicidade material acaba sendo um fracasso. Se, por exemplo, alguém quer ter um arranha-céu, quanta miséria humana não ocorrerá para que se possa construí-lo? O financiador tem de se submeter a muitos problemas para ganhar uma vultosa soma em dinheiro. E aqueles que trabalham como escravos para construir o edifício têm de se submeter a muito esforço físico. Isso é muita miséria. Logo, o Bhagavad-Gita diz que em qualquer atividade executada sob o encanto do modo da paixão há definitivamente grande miséria. Pode parecer que haja um pouco de felicidade mental — “Tenho esta casa ou este dinheiro” — mas esta não é a verdadeira felicidade.
Quanto ao modo da ignorância, o executor não tem conhecimento, e por isso todas as suas atividades atuais resultam em miséria, e depois ele prosseguirá em direção à vida animal. A vida animal é sempre miserável, embora, sob o encanto da energia ilusória, os animais não compreendam isso. O abate de animais indefesos também se deve ao modo da ignorância. Os matadores de animais não sabem que no futuro o animal terá um corpo adequado para matá-los. Esta é a lei da natureza. Na sociedade humana, se alguém mata um homem ele deve ser enforcado. Esta é a lei do Estado. Devido à ignorância, as pessoas não percebem que existe um Estado perfeito, completamente controlado pelo Senhor Supremo. Cada ser vivo é filho do Senhor Supremo, e Ele não tolera que se mate nem mesmo uma formiga. Deve-se pagar por isso. Logo, entregar-se à matança de animais só para satisfazer a língua é a espécie mais grosseira de ignorância. O ser humano não tem necessidade de matar animais, porque Deus forneceu-lhe tantas coisas boas. Se, apesar disso, ele insiste em comer carne, deve-se entender que está agindo em ignorância e está tornando seu futuro muito tenebroso. De todas as espécies de matança de animais, a matança de vacas é muito nefasta porque a vaca nos dá todas as espécies de prazer, fornecendo o leite. Abater vacas é cometer um dos mais grosseiros atos de ignorância. Na literatura védica indica que quem deseja matar a vaca, apesar de estar plenamente satisfeito com o leite, encontra-se na mais grosseira ignorância.
Também há uma oração na literatura védica que diz:
“Meu Senhor, Você é o bem-querente das vacas e dos grandes sábios que vivem glorificando Seu nome, e é o bem-querente de toda a sociedade humana e do mundo.”
Os grandes sábios são o símbolo da educação espiritual, e as vacas são o símbolo do alimento mais valioso; estas duas criaturas vivas, os sábios e as vacas, devem receber toda a protecção — este é o verdadeiro progresso da civilização. Na sociedade humana moderna, negligencia-se o conhecimento espiritual e estimula-se a matança de vacas. Deve-se compreender, então, que a sociedade humana avança na direcção errada e prepara o caminho de sua própria condenação. Uma civilização que induz os cidadãos a se tornarem animais em suas próximas vidas com certeza não é uma civilização humana. É óbvio que a actual civilização humana está grosseiramente influenciada pelos modos da paixão e da ignorância. Esta é uma era muito perigosa, e todas as nações devem preocupar-se em prover o processo mais fácil, a consciência de Krishna, para salvar a humanidade do maior dos perigos.
Do modo da bondade, desenvolve-se o verdadeiro conhecimento; do modo da paixão, desenvolve-se a cobiça; e do modo da ignorância, desenvolvem-se a tolice, a loucura e a ilusão.
Como a civilização atual não tem muita simpatia pelas entidades vivas, recomenda-se o processo de consciência de Krishna. Através da consciência de Krishna, a sociedade desenvolverá o modo da bondade. Quando se desenvolver o modo da bondade, as pessoas verão as coisas em sua verdadeira perspectiva. No modo da ignorância, elas são exatamente como animais e não podem ver com clareza. No modo da ignorância, por exemplo, elas não vêem que, matando um animal, estão assumindo o risco de serem mortas pelo mesmo animal na vida seguinte. Porque não se educam com o verdadeiro conhecimento, as pessoas se tornam irresponsáveis. Para acabar com esta irresponsabilidade, deve haver educação para que se desenvolva o modo da bondade nas pessoas em geral. Quando estiverem realmente educadas no modo da bondade, elas se tornarão sóbrias, e terão pleno e autêntico conhecimento das coisas. Então, serão felizes e prósperas. Mesmo que a maioria das pessoas não seja feliz e próspera, se uma determinada porcentagem da população desenvolver a consciência de Krishna e se situar no modo da bondade, então será possível que o mundo inteiro obtenha paz e prosperidade. Caso contrário, se o mundo se dedicar aos modos da paixão e ignorância, não poderá haver paz nem prosperidade. No modo da paixão, as pessoas se tornam cobiçosas, e seu desejo de satisfazer os sentidos não tem limites. Nesse caso, pode-se ver que mesmo que se tenha bastante dinheiro e condições favoráveis ao prazer dos sentidos, não há felicidade nem paz de espírito. Isto não é possível, porque se está no modo da paixão. Se alguém realmente quiser a felicidade, seu dinheiro não o ajudará; ele tem que se elevar ao modo da bondade, praticando a consciência de Krishna. Quando está ocupado no modo da paixão, ele não só é mentalmente infeliz, mas também sua profissão e ocupação são muito penosas. Ele tem de traçar muitos planos e projectos para conseguir bastante dinheiro a fim de manter seu status quo. Tudo isto é miserável. No modo da ignorância, as pessoas ficam loucas. Estando aflitas com o ambiente em que vivem, elas se refugiam nas drogas, e com isso se afundam mais e mais na ignorância. Sua vida tem um futuro muito tenebroso.
Aqueles situados no modo da bondade gradualmente elevam-se aos planetas superiores; aqueles no modo da paixão vivem nos planetas terrestres; e aqueles no abominável modo da ignorância descem para os mundos infernais.
Até aqui foram apresentados mais explicitamente os resultados das acções nos três modos da natureza. Existe um sistema planetário superior, que consiste nos planetas celestiais, onde todos são altamente elevados. Segundo o seu grau de desenvolvimento no modo da bondade, a entidade viva pode ser transferida para vários planetas deste sistema.
O modo da paixão é misto. Ele é intermediário, entre os modos da bondade e da ignorância. O homem não está sempre puro. Porém, mesmo que estivesse exclusivamente no modo da paixão, ele apenas permaneceria nesta Terra como rei ou homem rico. Mas porque há misturas, ele também pode descer. Nesta Terra, as pessoas no modo da paixão ou da ignorância não podem valer-se de máquinas para aproximarem-se à força dos planetas superiores. No modo da paixão, há também a possibilidade de se tornar louco na próxima vida.
Aqui se descreve como abominável a qualidade mais baixa, o modo da ignorância. O resultado de desenvolver a ignorância é muitíssimo arriscado. É a qualidade mais baixa na natureza material. Abaixo do nível humano existem oito milhões de espécies de vida — aves, animais ferozes, répteis, árvores, etc. — e, segundo o seu envolvimento com o modo da ignorância, as pessoas são arrastadas para estas condições abomináveis. Há a oportunidade de os homens no modo da ignorância e paixão elevarem-se ao modo da bondade, e este sistema chama-se consciência de Krishna. Mas quem não tirar proveito desta oportunidade com certeza continuará nos modos inferiores.
E compreendendo que possuímos o bem maior da vida como seres humanos, devemos por obrigação e imensa gratidão, direccionar todos os esforços em adquirir o conhecimento máximo da Espiritualidade e assim inserir em nossas vidas estes ensinamentos dados pela Suprema Personalidade de Deus Krishna e manter sempre acesa a inteligência quando se vê correctamente que em todas as actividades o único agente que está em ação são estes modos da natureza e quando se conhece o Senhor Supremo, que é transcendental a todos esses modos, alcança-se com toda a certeza a natureza Espiritual.
Podemos transcender todas as actividades dos modos da natureza material só por obter a devida compreensão transmitida pelas almas qualificadas. O verdadeiro mestre espiritual é Krshna, e Ele está dando este conhecimento espiritual. De modo semelhante, é com aqueles que estão em plena consciência de Krishna que se deve aprender esta ciência das actividades relacionadas com os modos da natureza. Senão, nossa vida seguirá um rumo errado. Através da instrução transmitida pelo mestre espiritual genuíno, o ser vivo pode conhecer sua posição espiritual, seu corpo material, seus sentidos, seu aprisionamento e sua posição sob o encanto dos modos da natureza material. Nas garras destes modos ele fica desamparado, mas quando consegue ver sua verdadeira posição, ele então pode alcançar a plataforma transcendental, pois tem como objectivo a vida espiritual. De fato, este ser vivo não é o autor das diferentes actividades. Ele é forçado a agir porque está situado numa determinada espécie de corpo, conduzido por algum modo específico da natureza material. Enquanto não receber a ajuda de uma autoridade espiritual, ele não poderá compreender em que posição está situado de fato. Com a associação de um mestre espiritual genuíno, ele pode ver sua verdadeira posição, e com essa compreensão pode se fixar em plena consciência de Krishna. Um homem em consciência de Krishna não se deixa controlar pelo encanto dos modos da natureza material. Já se declarou que alguém que se tenha rendido a Krishna se livra das actividades da natureza material. Para quem é capaz de ver tudo no seu devido lugar, a influência da natureza material cessa gradualmente.