Todos os propósitos satisfeitos por um poço pequeno podem imediatamente ser satisfeitos por um grande reservatório de água. De modo semelhante, todos os propósitos dos Vedas podem ser cumpridos por aquele que conhece o seu propósito subjacente.
As entidades vivas são partes integrantes de Krishna; portanto, a etapa em que a entidade viva individual revive a consciência de Krishna é a mais elevada perfeição do conhecimento védico.
Portanto, deve-se ser bastante inteligente para compreender o propósito dos Vedas, sem se deixar apegar apenas aos rituais, e não se deve desejar a elevação aos reinos celestiais visando uma qualidade melhor de satisfação dos sentidos. Nesta era, não é possível para o homem comum seguir todas as regras e regulações dos rituais védicos, nem lhe é possível estudar exaustivamente os Vedas . É preciso muito tempo, energia, conhecimento e recursos para pôr em execução os propósitos dos Vedas. Dificilmente isto é possível nesta era. Todavia, o melhor propósito da cultura védica é alcançado, cantando o santo nome do Senhor.
Isto se declara da seguinte maneira:
“Ó meu Senhor, uma pessoa que esteja cantando Seu santo nome, embora nascida em família inferior, está situada na mais elevada plataforma da auto-realização. Esta pessoa deve ter executado todas as espécies de penitências e sacrifícios segundo os rituais védicos e, tendo tomado seu banho em todos os lugares santos de peregrinação, na certa estudou os textos védicos muitíssimas vezes. Tal pessoa é considerada a melhor da família ariana.”
Aquele que de fato veio a entender sua posição constitucional como servo eterno do Senhor abandona todas as ocupações e passa a agir apenas em consciência de Krishna.
Aquele que se encontra nesta posição de um servo eterno de Krishna tem o direito de executar seu dever prescrito, mas não tem o direito aos frutos da acção. Jamais se deve considerar a causa dos resultados de suas actividades, e jamais deve-se apeguar ao não-cumprimento do seu dever.
Tecem-se aqui três considerações: deveres prescritos, trabalho por capricho, e inação. Os deveres prescritos são actividades impostas segundo os modos da natureza material adquiridos pela pessoa. Trabalho por capricho significa ações sem a sanção da autoridade, e inação significa não executar os deveres prescritos. O Senhor aconselhou Arjuna a não ficar inativo, mas a executar seu dever prescrito sem se apegar ao resultado. Alguém que se apega ao resultado do próprio trabalho, é também a causa da acção. Assim, ele desfruta ou sofre o resultado de tais acções.
Quanto aos deveres prescritos, eles podem incluir-se em três subdivisões, a saber, trabalho de rotina, trabalho de emergência e actividades desejadas. Trabalho de rotina executado por obrigação segundo as prescrições das escrituras, sem desejo dos resultados, é acção no modo da bondade. O trabalho visando resultados torna-se a causa do cativeiro; portanto, trabalho assim não é auspicioso. Todos têm direito de propriedade em relação aos deveres prescritos, mas deve-se agir sem apego ao resultado; tais deveres obrigatórios abnegados sem dúvida conduzem a pessoa ao caminho da liberação.
Este serviço devocional é a atitude correcta tomada pela entidade viva. Só quem é mesquinho deseja gozar o fruto de seu próprio trabalho aumentando assim seu enredamento no cativeiro material. Com a exceção do trabalho em consciência de Krishna, todas as actividades são abomináveis porque sempre prendem o autor ao ciclo do nascimento e morte. Assim jamais se deve desejar ser a causa do trabalho. Tudo deve ser feito em consciência de Krishna, para a satisfação de Krishna. Os avarentos não sabem utilizar os bens materiais adquiridos pela boa fortuna ou pelo trabalho árduo. A pessoa deve gastar todas as energias trabalhando em consciência de Krishna, e isto fará sua vida um sucesso. Tal qual os avarentos, as pessoas desafortunadas não aplicam sua energia humana no serviço do Senhor.
Aquele que está ocupado no serviço devocional, livra-se tanto das boas quanto das más ações, mesmo durante esta vida.
Desde tempos imemoriais, cada ser vivo vem acumulando as várias reações de seu trabalho, bom e mau. Isto deixa-o sempre ignorante de sua verdadeira posição constitucional. Ele pode eliminar sua ignorância ao ouvir a instrução do Bhagavad-Gitã, através da qual aprende a render-se ao Senhor Krishna em todos os aspectos e a deixar de ser vítima do cativeiro da acção e reação a que se sujeita nascimento após nascimento.
Ocupando-se no serviço devocional ao Senhor, grandes sábios ou devotos livram-se dos resultados de trabalho no mundo material. Agindo assim, eles ficam livres do ciclo de nascimento e morte, e passam a viver além de todas as misérias (indo de volta ao Supremo).
Devido à ignorância, não se sabe que este mundo material é um lugar miserável onde há perigos a cada passo. Só por ignorância, pessoas menos inteligentes recorrem a actividades fruitivas, tentando ajustar-se à situação, pois acham que as acções resultantes vão fazê-las felizes. Elas não sabem que, dentro do Universo, nenhum tipo de corpo material pode propiciar uma vida sem misérias. As misérias da vida, a saber, nascimento, morte, velhice e doenças, estão presentes em toda parte do mundo material. Mas aquele que compreende sua verdadeira posição constitucional como servo eterno do Senhor, e assim conhece a posição da Personalidade de Deus, ocupa-se no serviço transcendental amoroso ao Senhor. Consequentemente, ele se qualifica a entrar no céu Espiritual onde não há vida material miserável nem a influência do tempo e da morte. Conhecer a própria posição constitucional significa também conhecer a posição sublime do Senhor. Deve-se entender que aquele que pensa que a posição da entidade viva e a posição do Senhor estão no mesmo nível encontra-se na escuridão e é, portanto, incapaz de ocupar-se em serviço devocional ao Senhor. Ele mesmo torna-se um senhor e assim ingressa na estrada de repetidos nascimentos e mortes. Mas aquele que, compreendendo que está na posição de servo passa a executar serviço ao Senhor, imediatamente torna-se candidato a ir ao mundo Espiritual. O serviço em prol do Senhor chama-se, serviço devocional ao Senhor.