Aqui Arjuna pergunta quem é o verdadeiro Senhor do yajnhã (sacrifício) e como o Senhor reside dentro do corpo da entidade viva.
Arjuna dirige-se ao Senhor como Madhusudana porque uma vez Krshna matou um demônio chamado Madhu. Na verdade, estas perguntas, que denotam dúvidas, não deviam ter surgido na mente de Arjuna, porque Arjuna é um devoto consciente de Krishna. Portanto, estas dúvidas são como demônios. Como Krishna é tão hábil em matar demônios, Arjuna aqui O chama de Madhusudana para que Ele possa matar as dúvidas demoníacas que surgiram em sua mente.
Arjuna está ansioso em saber sobre os que sempre se ocupam em consciência de Krishna. Qual deve ser a posição deles naquele momento final? Na hora da morte, todas as funções corpóreas entram em desordem, e a mente não está numa condição apropriada. Perturbada por essa situação do corpo, a pessoa talvez não consiga lembrar-se do Senhor Supremo.
Um grande devoto do Senhor ora da seguinte maneira:
“Meu querido Senhor, agora mesmo estou bem saudável, e é melhor que eu morra imediatamente para que o cisne de minha mente possa embrenhar-se no caule de Seus pés de lótus”. -Usa-se essa metáfora porque o cisne, uma ave aquática, tem prazer em enfiar-se pelas flores de lótus; ao divertir-se, ele procura enfiar-se na flor de lótus.- “Agora minha mente está tranquila e estou bem de saúde. Se eu morrer agora mesmo, pensando em Seus pés de lótus, então, tenho certeza de que desempenharei com perfeição o Seu serviço devocional. Mas se tiver de esperar por minha morte natural, então, não sei o que acontecerá, porque naquele momento as funções corpóreas estarão em desordem, minha garganta ficará sufocada, e não sei se serei capaz de cantar Seu nome. É melhor que eu morra imediatamente”.
Por isso Arjuna pergunta como alguém pode fixar sua mente nos pés de lótus de Krishna em tal momento.
A Suprema Personalidade de Deus disse:
A entidade viva transcendental e indestrutível chama-se Espírito Supremo ou Brahman, e sua natureza eterna chama-se adhyatma, ou o Eu. A acção que desencadeia o desenvolvimento dos corpos materiais das entidades vivas chama-se karma, ou actividades fruitivas.
O Brahman ou o Espírito Supremo é indestrutível e eternamente existente, e sua constituição não muda em tempo algum. Mas além do Brahman há o Parabrahman. Brahman refere-se à entidade viva, e Parabrahman refere-se à Suprema Personalidade de Deus. A posição constitucional da entidade viva é diferente da posição que ela assume no mundo material. Em consciência material, sua natureza é tentar ser o dono da matéria, mas em consciência espiritual, consciência de Krishna, sua posição é servir ao Supremo. Quando está em consciência material, a entidade viva tem que aceitar vários corpos no mundo material. Isto se chama karma, ou as várias criações produzidas pela força da consciência material.
Os textos védicos chamam o ser vivo de jivatma e Brahman, mas nunca de Parabrahman. Este ser vivo (jivatma) aceita diferentes posições — às vezes mergulha na obscura natureza material e identifica-se com a matéria, e às vezes identifica-se com a natureza superior, espiritual. Por isso, ele se chama a energia marginal do Senhor Supremo. Segundo sua identificação com a natureza material ou espiritual, ele recebe um corpo material ou espiritual. Na natureza material, ele pode aceitar um corpo em qualquer uma dos oito milhões e quatrocentas mil espécies de vida, mas na natureza espiritual ele tem somente um corpo. Na natureza material, conforme seu karma, ele às vezes manifesta-se como homem, semideus, animal, fera, ave, etc. Para alcançar os planetas celestiais materiais e gozar as condições propícias por eles oferecidas, ele às vezes executa sacrifícios (yajnhã), mas expirado o prazo, volta à Terra sob a forma de ser humano. Este processo chama-se karma.
Nas escrituras sagradas dos Vedas descreve-se o processo sacrificatório védico da seguinte maneira: No altar de sacrifício, cinco tipos de oferendas são feitas em cinco tipos de fogo. Entende-se que os cinco tipos de fogo são os planetas celestiais, as nuvens, a Terra, o homem e a mulher; e os cinco tipos de oferendas sacrificatórias são a fé, o desfrutador na Lua, a chuva, os cereais e o sêmen.
No processo de sacrifício, o ser vivo faz sacrifícios específicos para alcançar planetas celestiais específicos e por conseguinte os alcança. Quando se esgota o mérito concedido pelo sacrifício, ele desce à Terra sob a forma de chuva, então assume a forma de grãos, e os grãos são comidos pelo homem e transformados em sêmen, que fecunda a mulher, e assim este ser vivo volta a alcançar a forma humana para executar sacrifício e então repetir o mesmo ciclo.
A natureza física está sempre mudando. Em geral, os corpos materiais passam por seis etapas: eles nascem, crescem, duram algum tempo, produzem alguns subprodutos, definham e então desaparecem. Esta natureza física, que se chama adhibhuta, é criada a certo ponto e será aniquilada a certo ponto. A constituição da forma universal do Senhor Supremo, que inclui todos os semideuses e seus diferentes planetas, chama-seadhidaivata. E presente no corpo junto com a alma individual está a Superalma, uma representação plenária do Senhor Kṛṣṇa. A Superalma, que Se chama Paramātmā ou adhiyajnhã, situa-Se no coração. A Superalma, a Suprema Personalidade de Deus, situada ao lado da alma individual, testemunha as atividades da alma individual e é a fonte das várias categorias de consciência da alma. A Superalma dá à alma individual a oportunidade para agir livremente e testemunha suas atividades. As funções de todas essas diferentes manifestações do Senhor Supremo tornam-se automaticamente claras para o devoto em consciência de Krishna pura, ocupado no serviço transcendental ao Senhor. O neófito, que não pode se aproximar da manifestação do Senhor Supremo como Superalma, fixa sua mente na gigantesca forma universal do Senhor, chamada adhidaivata. Ao neófito é aconselhado contemplar a forma universal, cujas pernas são consideradas os planetas inferiores, cujos olhos são considerados o Sol e a Lua, e cuja cabeça é considerada o sistema planetário superior.
Dessa maneira, ele vai e vem perpetuamente no caminho material. Entretanto, quem é consciente de Krishna evita esses sacrifícios. Ele adota directamente a consciência de Krishna e desse modo prepara-se para retornar ao Supremo.
Deve-se meditar na Pessoa Suprema como aquele que sabe tudo, como aquele que é o mais velho, que é o controlador, que é o menor dos menores, que é o mantenedor de tudo, que está além de toda a concepção material, que é inconcebível e que é sempre uma pessoa. Ele é luminoso como o Sol e é transcendental, situado além desta natureza material.