No capítulo 2, do verso 34 do Shri Shrimad Bhagavad-Gītä esta inserido o seguinte contexto:
"Aquele que livre de todo apego e aversão é capaz de controlar seus sentidos através dos princípios regulativos da liberdade pode obter a misericórdia completa do Senhor."
Explica-se que alguém pode aparentemente controlar os sentidos mediante algum processo artificial, mas se os sentidos não estiverem ocupados no serviço transcendental ao Senhor, há toda a possibilidade de uma queda. Embora a pessoa em plena consciência de Krishna possa dar a impressão de que está no plano sensual, por ser consciente de Krishna, ela não tem apego às atividades sensuais. Quem é consciente de Krishna só se preocupa com a satisfação de Krishna, e nada mais. Portanto, é transcendental a todo apego e desapego. Se Krishna quer, o devoto pode fazer qualquer coisa que normalmente é indesejável; e se Krishna não quer, ele deixa de fazer aquilo que normalmente teria feito para a sua própria satisfação. Portanto, agir ou não agir está dentro do seu controle porque ele age somente sob a direção de Krishna. Tal consciência deve-se à misericórdia imotivada do Senhor, e o devoto pode obtê-la apesar de estar preso à plataforma sensual.
Portanto, para alguém assim satisfeito (na consciência de Krishna) as três classes de misérias da existência material deixam de existir; nesta consciência jubilosa, a inteligência logo se torna resoluta.
Quem não está vinculado ao Supremo (em consciência de Krishna) não pode ter inteligência transcendental nem mente estável, sem as quais não há possibilidade de paz. E como pode haver alguma felicidade sem paz?
Se a pessoa não está em consciência de Krishna, não há possibilidade de paz. Assim, confirma-se quando alguém entende que Krishna é o único desfrutador de todos os bons resultados advindos dos sacrifícios e penitências, que Ele é o proprietário de todas as manifestações universais, e que Ele é o verdadeiro amigo de todas as entidades vivas, somente então é que se pode ter verdadeira paz. Logo, se a pessoa não for consciente de Krishna, sua mente não pode ter uma meta final. A perturbação deve-se à falta de um objetivo último, e quando se sabe que Krishna é o desfrutador e proprietário de tudo e o amigo de todos, então é possível, com uma mente estável, conseguir paz. Portanto, alguém cuja ocupação não tem relação com Krishna, decerto vive aflito e sem achar paz por mais que ele simule uma vida pacífica e com progresso Espiritual. A consciência de Krishna é uma condição pacífica que se manifesta espontaneamente e que só pode ser alcançada na relação com Krishna.
Nisto no capítulo nove verso trinta, do Shri Shimad Bhagavad-Gītä Krishna proclama que;
"Mesmo que alguém cometa ações das mais abomináveis, se estiver ocupado no serviço devocional, deve ser considerado santo, porque está devidamente situado em sua determinação."
A frase, (alguém que cometa ações das mais abomináveis) usada neste contexto, é muito significativa, e devemos compreendê-la apropriadamente. Quando é condicionada, a entidade viva tem duas espécies de atividades: uma é condicional e a outra, constitucional. Quanto à proteção do corpo ou ao acatamento às leis da sociedade e do Estado, com certeza há diferentes atividades relativas à vida condicional, mesmo para os devotos, e essas atividades chamam-se condicionais. Além destas, a entidade viva que está plenamente consciente de sua natureza Espiritual e ocupa-se em consciência de Krishna, ou no serviço devocional ao Senhor, realiza atividades que se denominam transcendentais. Essas atividades são executadas em sua posição constitucional, e chamam-se tecnicamente serviço devocional. Acontece que, no estado condicionado, às vezes o serviço devocional e o serviço condicionado ao corpo andam lado a lado. Mas nesse caso também, às vezes estas atividades opõem-se umas às outras. Na medida do possível, o devoto tem muita cautela em não fazer nada que possa abalar sua condição saudável. Ele sabe que a perfeição de suas atividades depende da sua progressiva realização na consciência de Krishna. Entretanto, às vezes pode-se ver que um devoto consciente de Krishna comete algum ato que social ou politicamente é tido como abominável. Mas essa queda passageira não o desqualifica. Afirma-se que se alguém cai mas está sinceramente ocupado no serviço transcendental ao Senhor Supremo, o Senhor, estando situado em seu coração, purifica-o e perdoa tal abominação. A contaminação material é tão forte que mesmo um yogī plenamente ocupado no serviço do Senhor às vezes cai na armadilha. Porém, a consciência de Krishna é tão forte que essa queda ocasional é corrigida de imediato. Por isso, o processo do serviço devocional é sempre um sucesso. Ninguém deve zombar de um devoto que acidentalmente afastou-se do caminho ideal, pois, como se explica no próximo verso, essas quedas ocasionais cessarão no devido tempo, logo que ele se situar em completa consciência de Krishna.
Portanto, quem está em consciência de Krishna e ocupa-se com determinação no processo de cantar Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare deve ser considerado como estando na posição transcendental, mesmo que ele pareça ter caído por acaso ou acidentalmente.
O significado disto, é que mesmo que alguém ocupado por completo no serviço devocional do Senhor às vezes cometa atos abomináveis, tal atitude deve ser considerada como as manchas da Lua, que se assemelham à forma de um coelho. Essas manchas não impedem a difusão do luar. Da mesma forma, o fato de um devoto acidentalmente sair do caminho do caráter santo não o torna abominável.
Por outro lado, não se deve interpretar que um devoto no serviço devocional transcendental pode agir de todas as maneiras abomináveis; este verso refere-se apenas a um acidente devido ao forte poder das ligações materiais. O serviço devocional é mais ou menos uma declaração de guerra contra a energia ilusória. Enquanto não se for bastante forte para combater a energia ilusória, poderá haver quedas acidentais. Mas quando o devoto é forte o suficiente, ele deixa de sujeitar-se a essas quedas, como já se explicou. Ninguém deve se aproveitar deste verso para cometer tolices e achar que continua sendo devoto. Se, com o serviço devocional, ele não melhorar seu caráter, então, deve-se entender que ele não é um devoto elevado.
Krishna conclui dizendo:
"É considerado em conhecimento pleno aquele cujos atos estão desprovidos do desejo de satisfação dos sentidos. Os sábios dizem que tal pessoa é um trabalhador cujas reações do trabalho foram queimadas pelo fogo do conhecimento perfeito."
Só alguém em conhecimento pleno pode compreender as atividades de uma pessoa em consciência de Krishna. Devido ao fato de que quem é consciente de Krishna está desprovido de todo tipo de propensões ao gozo dos sentidos, entende-se que, através do conhecimento perfeito de sua posição constitucional como servo eterno da Suprema Personalidade de Deus, ele queimou as reações de seu trabalho. Aquele que alcançou tal perfeição de conhecimento é realmente erudito. O desenvolvimento deste conhecimento acerca da eterna servidão ao Senhor é comparado ao fogo. Esse fogo, quando aceso, pode queimar todos os tipos de reações ao trabalho.
"Abandonando todo o apego aos resultados de suas atividades, sempre satisfeito e independente, ele não executa nenhuma ação fruitiva, embora ocupado em vários tipos de empreendimentos."
Esta liberdade do cativeiro das ações só é possível na consciência de Krishna, quando se faz tudo para satisfazer Krishna. Quem é consciente de Krishna age por puro amor à Suprema Personalidade de Deus, e por isso não se apega aos resultados da ação. Ele nem mesmo está preocupado com sua manutenção pessoal, pois Krishna Se encarrega de tudo. Tampouco está ansioso por conseguir mais coisas, ou em proteger as coisas que já estão em sua posse. Ele cumpre seu dever da melhor forma que lhe é possível e deixa tudo a critério de Krishna. Quem é assim desapegado está sempre livre dos bons ou maus efeitos das reações; é como se não estivesse fazendo nada. Isto caracteriza ações sem reações fruitivas. Qualquer outra ação, portanto, desprovida de consciência de Krishna, ata o trabalhador.
"É dificílimo entender as complexidades da ação. Portanto, deve-se saber exatamente o que é ação, o que é ação proibida e o que é inação."
Quem está decidido a libertar-se do cativeiro material deve compreender as distinções entre ação, inação e ações não autorizadas. Ele deve dedicar-se a esta análise da ação, reação e ações pervertidas, porque este é um assunto muito difícil. Para compreender a consciência de Krishna e o critério para agir dentro de seus parâmetros, deve-se aprender o relacionamento com o Supremo; isto é, aquele que aprendeu perfeitamente sabe que cada entidade viva é um servo eterno do Senhor e que por conseguinte todos têm que agir em consciência de Krishna. O Shri Shrimad Bhagavad-Gītä inteiro é dirigido a esta conclusão. Quaisquer outras conclusões que vão de encontro a esta consciência e às ações a ela associadas são ações proibidas. Para compreender tudo isso, é necessário dirigir-se às autoridades na consciência de Krishna e com elas aprender o segredo; e isto será o mesmo que aprender diretamente do Senhor. Caso contrário, até mesmo as pessoas mais inteligentes ficarão confusas.